Olhava a travessa atulhada de comida a sua frente, com a nítida impressão de que passara da conta.
_Lá se vai minha cintura – ressentiu-se ela, segura de que nunca em sua vida chegaria ao fim do dantesco prato.
_ Imagine – devolveu ele, enchendo a taça e a bola da moçoila _Você é linda, meu bebê. Uma boneca. Mulher nenhuma chega a seus pés.
_Ah, tolinho.
_Ah, fofura.
Riram. De novo. E mais um tantinho.
Daí olhou pra ela, como quem diz, Adivinhe…
Bastou para a outra virar sarna. Pulando e perguntando e voltando a perturbar.
_Não me diga que tem uma surpresa pra mim. Ai, minha nossa senhora. Não me diga…
_Fiquei sabendo por aí que um certo casal vai viajar. Paris – assoviou_ Que tal assim, hein?
_Juuuuuuura? – a fulana endoideceu_ Quando? Hoje?
Ele que era lindo e tinha um temperamento adorável, sorriu, enternecido.
_Calma, bizunguinha – Seus olhos azuis clareando, beiravam o espetacular_ As passagens são pra daqui a uns dias. E o melhor de tudo: sem data pra voltar!
A pobrezinha foi ao alto dos céus antes de cair das nuvens, acelerada, preocupada com o tanto de coisa por fazer e despachar.
_ Esqueça a casa – sugeriu o maridão _ Deixe que cuido de tudo. Aproveite o dia. Vá as compras. Ao salão. Escolha os vestidos que quiser. Um anel. Talvez um colar pra combinar.
_Sei não. Parece exagero…
_Que nada. É meu, é seu. Então, aproveite, ouviu? – tomando as mãos mornas da bela entre as suas. Enormes. Firmes. Desveladas.
A moça avermelhou, quase virou tomate. Sorria com os olhos, com a boca e de orelha a orelha. Desfilando dentes branquinhos e perfilados.
_Bom. Melhor cuidar logo dessa louça…
_E estragar seu esmalte? De jeito nenhum! Sossegue e assista TV. A propósito, experimentou o doce de leite com abóbora que fiz pra você? Olha o aviãozinhoooooooo….
Ela, a princípio, hesitou. Após, assentiu. Sua saia de seda brilhante resplandecia. Espalhando luz. Luz. LUZ…
Mas quando levantou, tinha em mãos uma pilha de pratos e talheres ainda quentes. E a cara fechada. Feia, mesmo. Carranca amarrada de quem traz no lombo a canseira acumulada dos afazeres cotidianos. As unhas roídas, recobertas num verniz craquento, esmaecido de tanto lavar, passar, cozinhar. Lavar, passar, cozinhar.
Do homem alto e apolíneo, nem sombra. Restava só o sujeito encurvado. Cabeleira rala, minguada. Fuça metida numa vasilha funda de refogado. Mastigando alto, boca aberta de onde a comida acenava pra cá e pra lá. Sem se dar conta da mulher estacionada bem ali, justo em frente.
Foi quando a dona-patroa, num avental triste de guerra, virou de lado e grunhiu. Difícil entender o que dizia, provavelmente não fosse nada. Um arremedo livre de significância. Um esconjuro, quem sabe. Quem liga. E afastou-se. Acostumada a não ver, nem ser vista de volta.
Enquanto isso, o cabra à mesa respirava com esforço. Tossiu, tossiu. Depois, reacendeu uma bituca catada do chão e assim ficou, solitário e lamentável, arriado numa cadeira de canto. Até que sorriu. Para a ruiva escultural vinte anos mais nova que insistia em massagear-lhe os ombros atléticos. Numa contemplação desregrada. Como de costume. Entre um round e outro dum disputado embate mundial de hóquei no gelo. Ou seria esgrima? Xadrez chinês? Tanto faz. Ao fim da noite, mais uma vez, ele se sagraria campeão. E a multidão enlouquecida iria às alturas, ovacionando e aplaudindo, Lindo! Lindo! Lindo!…
Nada pior do que um relacionamento degringolar feito esses dois. O pior é que a maioria acaba assim nénão? Ohdó!
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E não são poucos, comadre… Tão comum quanto gripe no inverno 🙁🙁🙁
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Eita, muito eita.
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Pena, né? Qualquer semelhança não é mera coincidência…
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Eita de novo!
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KKKKKKKKKKKKK. Só você…
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Adorei como sempreeeeee amiga!!!
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Queridaaaaaaa
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Obrigada pelo carinho 💖💖💖💖
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